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Sextina: A Houdini

Depois da Grande Guerra, o desafio
lançado ao mundo era encontrar sentido.
Exceto ao frio, vil mistificador,
crer no contato com a alma além do corpo
diminuía a dor, ante o mistério
da exibição de atrocidades do homem.

Houdini parecia mais que um homem;
só se bateu, mais que num desafio,
morta a sua mãe – do que nem fez mistério.
Foi atrás de médiuns, seu “sexto sentido”;
mas, toda vez que observava um “corpo
possesso”, via um mistificador.

Que se chamasse “mistificador”;
bradasse aos ventos que era ele, um homem,
e não um certo espírito em seu corpo,
o autor de uma façanha. Em desafio
aos charlatães, ao seu “sexto sentido”
de araque, iria opor o seu mistério

genuíno, não explicado (aliás, mistério
maior com o termo “mistificador”).
E a arte da fuga teve outro sentido;
de algemas a cadeias, como esse homem,
se impondo, ou aceitando um desafio
maior, ia além, sem arranhão no corpo?

o que podia haver melhor pra um corpo?
Grande vida – ou melhor… até o mistério
do tal do Whitehead, com aquele desafio…
com Houdini, um “homem”, “mistificador”
convicto, respondendo “sim” ao homem….
Pesando bem, nada teve sentido —

ou então o desafio teve um sentido
diverso: sem os seus grilhões pro corpo,
não havia do que escapar. Só havia o abdômen,
punhos cerrados, murros – não mistério;
e não se elude, mistifica a dor —
com murro atrás de murro, o desafio,

sentido, foi a prova — sem mistério,
no corpo — do que é um “mistificador”,
um homem —muito mais que um “desafio”.

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Sextina: Da Incerteza

Seis meses, hein? Um record. E ele quer
o bem dos dois. Toda energia tem fim
em nós. Ruptura é parte disso. Para
poupar dor de cabeça, o melhor meio
é um fim da sua vontade, ante a incerteza
de quando vão na marra cair na real.

Um bom motivo, parecendo real –
sua “transferência” pra um país qualquer;
frases gentis – sem margem à incerteza –
sinceras – por que não? – e o clique. Fim.
(Os olhos dela, quando aflita, meio
que balanceados) – não, quando compara

este a outros episódios, se depara
com o mesmo – ela não parecia real.
A regra, ou desafio, é achar um meio
de nunca se amarrar. Amar? Quem quer
tal mandamento, fácil de no fim
violar, ou por desgosto, ou incerteza?

Ela não dava mostras de incerteza
sobre ele, a vida que queria para
os dois. Só tinha um ar de hiper-afim;
“não parecia real?”? ela era hiper-real;
nunca havia achado, ou acharia, sequer
um par assim, fosse qual fosse o meio.

Ele se sente alguém partido ao meio;
como quem quer alguém contra a incerteza
e quer no exato grau em que não quer –
que sofre do que quer, isso não para
de exercer dentro uma pressão real
e ignora o que é, sem que o defina em fim –

não nega que, caso defina um fim,
não acha um meio – ou se acha, faz do meio
um fim – e lembra cada fato real
provando, sem dar margem à incerteza,
que a vida toda foi assim. E para
quem busca ser realista, isso requer

reconhecer no fim que sua incerteza
é o meio de onde escapa e é onde para,
que é real – uma ruptura – e que ele a quer.

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